25 de outubro de 2007

O paradigma "O"


Com "O" de orgânico é que poderia se começar o século. Depois das feiras e produtos orgânicos, chega um dispositivo baseado em micro-estruturas de carbono que pretende revolucionar telas de computador e de celulares com sua flexibilidade que tambem começa com a letra "O". Até aí mais um objeto do desejo. As forças armadas americanas estão pesquisando seu uso em roupas. Até aí mais um exibicionismo militar. O que me preocupa, fazendo um exercício de futurologia, é o uso de roupas flexíveis como telas ambulantes, como uma TV móvel pelas ruas, graças ao OLED (Organic Light-Emitting Diode) que tem uma freqüência de atualização de imagens muito maior do que um monitor de LCD. Deste modo, em uma apresentação de vôlei, teremos uma sucessão de imagens sem borrão (imagine as pás de um helicóptero em movimento sendo visíveis quando em movimento). O que está em discussão aqui é uma nova forma de poluição que certamente será numerosa: quem não vai querer ter uma roupa com estes recursos? Leis para coibir a poluição visual já precisam começar a ser debatidas, a exemplo da regulamentação dos robôs, que já está em debate na Europa.  Mas já imaginou o que uma tecnologia faz? Ela emite luminosidade além das cores que estamos acostumados a perceber? À noite seremos pirilampos, a prejudicar, não apenas as cidades mas até o campo? As questões ambientais precisam de abranger este novo tópico também. Futuras regras de boas maneiras a serem adotadas: desligue sua roupa antes da sessão de cinema, não use imagens piscantes na rua pois não podemos favorecer uma epidemia de epilepsia, a exemplo do efeito do videogame pokemon no Japão. Nossas roupas nos viciarão como os cigarros hoje nos viciam? E como ir vestido para a entrevista de emprego? Seremos questionados pela escolha dos trechos de filmes que faremos passar pelo nosso corpo? Assim como os DJs alcançaram um certo prestígio profissional, os estilistas terão de se transformar em videomakers para agradar a parcela endinheirada das nações? Para terminar, eu poderia passear por uma camiseta com OLED, mostrando a estátua do General Manoel Luís Osório (aquele da Praça XV de Novembro, que talvez você não se lembre agora que está sem a placa, mas com este blog certamente pode voltar às bocas). Como o Rio de Janeiro não tem sido exatamente nacionalista na preferência temática das camisetas que seus habitantes usam, tenho certeza que esta poderia ser uma polêmica perfeitamente enquadrada no estilo de vida "O".